Sem estádio, o CAT pediu afastamento da Série B, mesmo com o time classificado para a segunda fase (Foto: Divulgação/CAT) |
Escrito por João Victor
Gonçalves*
Foi com tristeza que recebi a
notícia do afastamento do Clube Atlético Taquaritinga da segunda fase da Quarta
Divisão do Campeonato Paulista. O licenciamento de clubes por todo o interior
já não é uma novidade desde 2003, quando a Federação Paulista de Futebol (FPF)
passou a ser administrada por Marco Polo del Nero; mas o fato de o CAT deixar
uma competição em andamento após conseguir a classificação, é algo inédito nos
últimos anos no futebol paulista (típico das divisões inferiores do Rio de
Janeiro), e mostra ainda mais a vulnerabilidade de instituições tradicionais de
nosso futebol.
No caso do Leão, a
impossibilidade de utilizar o Estádio Dr. Adail Nunes da Silva, o Taquarão, foi
a gota d’água: os custos inviabilizariam financeiramente a gestão do clube e,
sem um respaldo adequado, a diretoria optou pelo afastamento. Saída honrosa,
mas melancólica para um clube que já disputou a elite paulista nos anos 80 e
que, tradicionalmente, sempre ocupou o segundo nível na pirâmide do acesso
estadual.
O caso do CAT mostra a
dependência que muitas equipes ainda tem em relação ao Poder Público: casos
célebres como o do declínio da Paraguaçuense, afastada das competições
profissionais após a impossibilidade de manutenção utilizando o dinheiro
público no futebol, indicam essa condição que, nos dias atuais, não se
manifesta mais no pagamento direto do salário de atletas, comissão técnica e
diretores, mas sim na disponibilização de estrutura para treinamentos e
manutenção de categorias de base. Normalmente a alternativa é apelar para a
iniciativa privada – o que potencializa a criação de muitos times de aluguel,
que infestam a Segundona, sem mobilizar torcedores de suas cidades-sede.
Outra situação que mostra a
realidade desoladora de alguns clubes é a da Associação Atlética Francana: a centenária
instituição simplesmente não teve candidatos à presidência na última eleição
interna. Este é só mais um capítulo da decadência da Veterana, que, com mais
sorte do que competência, consegue a cada ano se manter na Série A3 (ver a
Francana ter forças para prosseguir na A3 com todos os seus problemas internos
só demonstra a incapacidade da atual gestão do São Carlos FC e dos jogadores
que compuseram o plantel em 2014, rebaixados à Quarta Divisão). Provavelmente a
próxima temporada será fatal para qualquer ambição de manutenção do escrete da
Centenária...
Soluções? Alguns modelos
administrativos no interior podem ser avaliados como bem-sucedidos, embora
sempre com ressalvas. E, surpreendente ou não, estamos na vigência de um ano
que teve um campeão estadual caipira, o Ituano, prova de que um trabalho sério,
respaldado por um grupo gestor inteligente e dedicado, e com um orçamento
realista pode trazer frutos. Porém, o Galo ainda deve ser visto como um caso
isolado numa realidade de afastamentos e extinções de clubes tradicionais do
futebol interiorano. Com isso, muitos estádios, abandonados, perdem seu
tradicional sentido de alegria e passam a ser visto como cemitérios, habitado apenas por fantasmas.
*João Victor Gonçalves é blogueiro do Globo Esporte, estudante de Medicina, tem 19 anos e é torcedor de São Carlos FC e Paulistinha, além do extinto Grêmio. Sempre presente nas históricas arquibancadas do Luisão!
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