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João Victor: "Voltamos ao inferno. A Série B beira o amadorismo.. é a UTI para os clubes do interior paulista" (Foto: Divulgação/São Carlos FC) |
Escrito por João Victor Gonçalves*
Não quero ser repetitivo, mas não
dá pra não falar do rebaixamento do São Carlos nesta edição semanal de minha
coluna. Ao longo dos últimos dias, a equipe do Futebol de São Carlos já
elucidou os fatores que culminaram no capítulo mais vergonhoso nos 10 anos de
existência da Águia. Porém, se a reportagem buscou junto com a torcida os “sete
pecados” cometidos pelo São Carlos, não hesitarei em apontar os 10 pontos-chave
para o descenso.
1) A manutenção do “Cacique”
Roberto Oliveira: sem sombra de dúvidas, o primeiro
erro da administração Carlos Antunes foi à manutenção do ultrapassado Roberto
Oliveira à frente do comando técnico da Águia na pré-temporada. Em meses de
trabalho em 2013, o “campeão indígena” não conseguiu impor um padrão tático à
equipe, e demonstrou a mesma desorganização do ano anterior nas rodadas
iniciais da A3. Nomes como o de Alexandre, duramente criticado pela torcida
são-carlense, também seguiram formando o elenco, mesmo sem demonstrar provas
concretas de empenho e qualidade.
2) Pré-temporada inadequada: não
há dúvidas de que a pré-temporada da equipe numa pousada no interior de Minas
Gerais foi inadequada e pouco produtiva (para não dizer, prejudicial). O
estrago foi tamanho que, durante toda a disputa da Série A3, o São Carlos não
apresentou um preparo físico adequado. Sabe-se lá o que os atletas fizeram
durante todo este período, mas, seja lá o que for, em nada contribuiu para a
disputa de um campeonato profissional.
3) Inchaço administrativo: a
quantidade de diretores e membros da comissão técnica do São Carlos virou
motivo de piada entre os fanáticos da Águia. Nomes como os de Paulo Mayeda,
Aloísio Guerreiro, Nenê Belarmino, Alan Thomaz, entre outros menos expressivos,
demonstraram que a estratégia de “dividir para administrar”, proposta por
Carlos Antunes, não surtiu efeito; pelo contrário, refletiu a falta de um poder
central, de um comandante de fato que pudesse tomar as decisões necessárias
para a correção dos erros da equipe durante a disputa do campeonato.
4) Afastamento de integrantes da
diretoria anterior: como foi noticiado pelo próprio Julinho Bianchim, sua
condição de fundador, presidente e mantenedor do São Carlos por quase nove
temporadas, foi dispensada pela atual administração, não havendo a inserção
prática deste alentador do futebol local num cargo efetivo na atual comissão
diretiva. À imagem de Julinho, soma-se a ausência de outros antigos
profissionais, que provaram seu mérito levando uma equipe com orçamento
limitado do inferno da 4ª Divisão à Série A2 em menos de 10 anos.
5) Elenco fraco: a temporada 2014
foi a prova de que salários elevados e qualidade técnica não são atributos que
sempre andam lado a lado no futebol. No ano em que o São Carlos teve uma de
suas maiores folhas salariais (reza a lenda, com jogadores como Galiardo ganhando
cerca de R$ 10 mil), não conseguiu reunir jogadores que estavam à altura da
modesta terceira divisão paulista. Salvo raras exceções (como Rafael Oller e
Fábio Luís), a equipe não teve atletas que deixarão saudades. Na ausência de
Filippi, Rubens não passou a segurança esperada no arco; a zaga, deficiência
crônica da equipe, não mostrou a evolução esperada no decorrer do campeonato.
Do meio para frente, a equipe até possuiu estatísticas razoáveis, mas não
suficientes para que o fiasco da queda fosse evitado.
6) Ausência de nomes respeitáveis
no futebol local: neste tópico, nem entra a questão a ausência de jogadores da
campanha gloriosa do Paulistinha, os quais poderiam reforçar (e muito!) o São
Carlos na disputa da A3. Vários heróis dos acessos em 2005 e 2011, pelo
respeito e qualidade demonstrados dentro de campo, poderiam figurar no elenco.
No comando técnico, João Martins seria uma excelente opção para a montagem do
plantel e, certamente, seu salário não seria tão diferente quanto o do
“multicampeão tocantinense”. Num elenco quase totalmente desconhecido, nomes
como os de Jé, Samir, Ronaldo, Evandro Paulista e tantos outros que honraram a
camisa do São Carlos foram uma ausência sentida.
7) Manutenção do “fantoche”
Rodrigo Santana: pessoalmente, não tenho nada contra Rodrigo
Santana. Fez um bom trabalho à frente da equipe de Juniores, mas obviamente sua
ascensão à equipe profissional foi precipitada. Digo mais: é de conhecimento
geral que Rodrigo fez um papel de “fantoche”, não possuindo um real comando
sobre o grupo. Após o duelo contra o Sertãozinho, a diretoria perdeu a
oportunidade de aceitar sua demissão e iniciar a reação na competição com um
novo comandante. Os motivos para tal? Talvez a condição de manipulador de
fantoches seja mais interessante aos integrantes da diretoria do que dar a cara
a tapa...
8) Falta de identidade: o
problema da falta de identidade do São Carlos FC com a torcida vem se agravando
ao longo dos anos. Em 2014, quase nada foi feito para a reversão deste quadro.
Sequer a busca de apoio financeiro local, o qual, embora não trouxesse recursos
à altura dos empreendidos por Antunes para a formação do elenco, certamente
angariaria a simpatia de parte da classe industrial ou comercial do município.
Isso sem falar na insistência em não silenciar certos segmentos da torcida que
mais afastam o verdadeiro torcedor das arquibancadas do que os motivam a ir
assistir a uma partida no Luisão.
9) Conflitos com a imprensa: se a
imagem do São Carlos já estava afetada com a campanha ruim e a relativa falta
de identidade entre os são-carlenses, a situação piorou com a “Lei do Silêncio”
imposta pela administração da equipe. Quem poderia dar apoio ao grupo e fazer o
elo entre torcida e jogadores simplesmente teve sua atuação barrada. Daí em
diante, duas opções restaram ao clube na mídia local: ser motivo de críticas ou
simplesmente estar entregue ao ostracismo.
10) Incompetência dentro das
quatro linhas: o décimo, último e óbvio motivo para a queda do São Carlos só
está presente para lembrar os leitores desta coluna que, da mesma maneira como
a sorte acompanha os grandes profissionais, o fracasso persegue os
incompetentes. Desta maneira, o azar jamais pode ser atribuído como “causa,
razão, motivo ou circunstância” para o pífio desempenho da Águia da Central na
A3.
Voltamos ao inferno. A Série B,
que na verdade é a quarta divisão, beira o amadorismo e é uma verdadeira Unidade de Terapia Intensiva para os clubes do interior paulista. Porém, o futuro do
São Carlos FC é assunto para outra ocasião...
*João Victor Gonçalves é blogueiro do Globo Esporte,
estudante de Medicina, tem 18 anos e é
torcedor de São Carlos FC e Paulistinha, além do extinto Grêmio. Sempre
presente nas históricas arquibancadas do Luisão
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