quinta-feira, 17 de abril de 2014

JOÃO VICTOR: Os dez passos para o inferno

João Victor: "Voltamos ao inferno. A Série B beira o amadorismo.. é a UTI para os clubes do interior paulista" (Foto: Divulgação/São Carlos FC)
Escrito por João Victor Gonçalves*

Não quero ser repetitivo, mas não dá pra não falar do rebaixamento do São Carlos nesta edição semanal de minha coluna. Ao longo dos últimos dias, a equipe do Futebol de São Carlos já elucidou os fatores que culminaram no capítulo mais vergonhoso nos 10 anos de existência da Águia. Porém, se a reportagem buscou junto com a torcida os “sete pecados” cometidos pelo São Carlos, não hesitarei em apontar os 10 pontos-chave para o descenso.

1) A manutenção do “Cacique” Roberto Oliveira: sem sombra de dúvidas, o primeiro erro da administração Carlos Antunes foi à manutenção do ultrapassado Roberto Oliveira à frente do comando técnico da Águia na pré-temporada. Em meses de trabalho em 2013, o “campeão indígena” não conseguiu impor um padrão tático à equipe, e demonstrou a mesma desorganização do ano anterior nas rodadas iniciais da A3. Nomes como o de Alexandre, duramente criticado pela torcida são-carlense, também seguiram formando o elenco, mesmo sem demonstrar provas concretas de empenho e qualidade.
2) Pré-temporada inadequada: não há dúvidas de que a pré-temporada da equipe numa pousada no interior de Minas Gerais foi inadequada e pouco produtiva (para não dizer, prejudicial). O estrago foi tamanho que, durante toda a disputa da Série A3, o São Carlos não apresentou um preparo físico adequado. Sabe-se lá o que os atletas fizeram durante todo este período, mas, seja lá o que for, em nada contribuiu para a disputa de um campeonato profissional.
3) Inchaço administrativo: a quantidade de diretores e membros da comissão técnica do São Carlos virou motivo de piada entre os fanáticos da Águia. Nomes como os de Paulo Mayeda, Aloísio Guerreiro, Nenê Belarmino, Alan Thomaz, entre outros menos expressivos, demonstraram que a estratégia de “dividir para administrar”, proposta por Carlos Antunes, não surtiu efeito; pelo contrário, refletiu a falta de um poder central, de um comandante de fato que pudesse tomar as decisões necessárias para a correção dos erros da equipe durante a disputa do campeonato.
4) Afastamento de integrantes da diretoria anterior: como foi noticiado pelo próprio Julinho Bianchim, sua condição de fundador, presidente e mantenedor do São Carlos por quase nove temporadas, foi dispensada pela atual administração, não havendo a inserção prática deste alentador do futebol local num cargo efetivo na atual comissão diretiva. À imagem de Julinho, soma-se a ausência de outros antigos profissionais, que provaram seu mérito levando uma equipe com orçamento limitado do inferno da 4ª Divisão à Série A2 em menos de 10 anos.
5) Elenco fraco: a temporada 2014 foi a prova de que salários elevados e qualidade técnica não são atributos que sempre andam lado a lado no futebol. No ano em que o São Carlos teve uma de suas maiores folhas salariais (reza a lenda, com jogadores como Galiardo ganhando cerca de R$ 10 mil), não conseguiu reunir jogadores que estavam à altura da modesta terceira divisão paulista. Salvo raras exceções (como Rafael Oller e Fábio Luís), a equipe não teve atletas que deixarão saudades. Na ausência de Filippi, Rubens não passou a segurança esperada no arco; a zaga, deficiência crônica da equipe, não mostrou a evolução esperada no decorrer do campeonato. Do meio para frente, a equipe até possuiu estatísticas razoáveis, mas não suficientes para que o fiasco da queda fosse evitado.
6) Ausência de nomes respeitáveis no futebol local: neste tópico, nem entra a questão a ausência de jogadores da campanha gloriosa do Paulistinha, os quais poderiam reforçar (e muito!) o São Carlos na disputa da A3. Vários heróis dos acessos em 2005 e 2011, pelo respeito e qualidade demonstrados dentro de campo, poderiam figurar no elenco. No comando técnico, João Martins seria uma excelente opção para a montagem do plantel e, certamente, seu salário não seria tão diferente quanto o do “multicampeão tocantinense”. Num elenco quase totalmente desconhecido, nomes como os de Jé, Samir, Ronaldo, Evandro Paulista e tantos outros que honraram a camisa do São Carlos foram uma ausência sentida.
7) Manutenção do “fantoche” Rodrigo Santana: pessoalmente, não tenho nada contra Rodrigo Santana. Fez um bom trabalho à frente da equipe de Juniores, mas obviamente sua ascensão à equipe profissional foi precipitada. Digo mais: é de conhecimento geral que Rodrigo fez um papel de “fantoche”, não possuindo um real comando sobre o grupo. Após o duelo contra o Sertãozinho, a diretoria perdeu a oportunidade de aceitar sua demissão e iniciar a reação na competição com um novo comandante. Os motivos para tal? Talvez a condição de manipulador de fantoches seja mais interessante aos integrantes da diretoria do que dar a cara a tapa...
8) Falta de identidade: o problema da falta de identidade do São Carlos FC com a torcida vem se agravando ao longo dos anos. Em 2014, quase nada foi feito para a reversão deste quadro. Sequer a busca de apoio financeiro local, o qual, embora não trouxesse recursos à altura dos empreendidos por Antunes para a formação do elenco, certamente angariaria a simpatia de parte da classe industrial ou comercial do município. Isso sem falar na insistência em não silenciar certos segmentos da torcida que mais afastam o verdadeiro torcedor das arquibancadas do que os motivam a ir assistir a uma partida no Luisão.
9) Conflitos com a imprensa: se a imagem do São Carlos já estava afetada com a campanha ruim e a relativa falta de identidade entre os são-carlenses, a situação piorou com a “Lei do Silêncio” imposta pela administração da equipe. Quem poderia dar apoio ao grupo e fazer o elo entre torcida e jogadores simplesmente teve sua atuação barrada. Daí em diante, duas opções restaram ao clube na mídia local: ser motivo de críticas ou simplesmente estar entregue ao ostracismo.
10) Incompetência dentro das quatro linhas: o décimo, último e óbvio motivo para a queda do São Carlos só está presente para lembrar os leitores desta coluna que, da mesma maneira como a sorte acompanha os grandes profissionais, o fracasso persegue os incompetentes. Desta maneira, o azar jamais pode ser atribuído como “causa, razão, motivo ou circunstância” para o pífio desempenho da Águia da Central na A3.

Voltamos ao inferno. A Série B, que na verdade é a quarta divisão, beira o amadorismo e é uma verdadeira Unidade de Terapia Intensiva para os clubes do interior paulista. Porém, o futuro do São Carlos FC é assunto para outra ocasião...


*João Victor Gonçalves é blogueiro do Globo Esporte, estudante de Medicina, tem 18 anos e é  torcedor de São Carlos FC e Paulistinha, além do extinto Grêmio. Sempre presente nas históricas arquibancadas do Luisão

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