Serginho (centro) e seus comandados. Tanabi é uma das sensações da Serie B (Foto: Ricardo Gama/Colaboração) |
Escrito por Saulo Marino
Longe dos
holofotes e dos milhões de dólares que pouquíssimos jogadores de futebol tem a
oportunidade de receber, alguns atletas buscam o seu lugar ao sol, e São Carlos
entra nessa rota diretamente com São Carlos Futebol Clube e Clube Atlético
Paulistinha, que disputam respectivamente a terceira e quarta divisão do
futebol estadual; e indiretamente numa despretensiosa xícara de café num sábado
à tarde em um posto de gasolina localizado as margens da Rodovia SP-310
(popularmente conhecida como Washington Luís). Isso porque, a pessoa que lhe
escreve agora, recebeu o convite para jogar conversa fora dirigindo a 140km/h.
O posto
escolhido para a pausa do café e cigarro não divergia em nada de tantos outros
que encontramos ao longo das rodovias do Brasil a fora, mas entrou ao acaso na
rota de atletas buscando um lugar ao sol quando a delegação do Tanabi Esporte
Clube resolveu parar no mesmo horário e local para fazer um lanche antes de
seguir viagem até Taboão da Serra, onde enfrentariam o Cotia pela primeira rodada
da terceira fase do Campeonato Paulista da Segunda Divisão. Até então, segundo
o Google Maps, o ônibus da equipe que “fica no fim do mundo”, como afirmou o
treinador Serginho Índio em entrevista concedida 5 minutos após avistá-los pela
primeira vez, já tinha rodado 250 quilômetros, e mais 250 quilômetros o
aguardavam até o local do confronto.
A equipe que,
numa jogada de marketing, contou nas três primeiras rodadas do campeonato com o
folclórico atacante Viola (aquele mesmo que sonhou que iria fazer um gol na
final da Copa de 1994, entrou na partida mas não fez; e imitou o porco contra o
Palmeiras, o que motivou Evair & Cia a tirar o porco da fila que já durava
17 anos), sonha alto na Série B do Paulista 2013. Serginho Índio, que já
trabalhou no São Carlos F.C. em 2011, afirmou que objetivo é subir de divisão.
“Nosso time é
desconhecido, todo mundo fala que ‘Tanabi é no fim do mundo’, mas não é isso
não, realizamos um trabalho simples de um time pequeno, numa cidade pequena,
mas com os pés no chão. Nossa folha de pagamento não chega a R$ 10 mil, mas
dentro de campo nosso jogador ‘chega junto’, morde a bola, como até grama, e tá
atropelando todo mundo no campeonato”, afirmou o treinador.
Apesar da
humilde folha de pagamento para os padrões futebolísticos, Serginho reconhece
que o time vem brilhando dentro de campo. “Deixamos o Fernandópolis atrás na
nossa chave, que a folha de pagamento é R$ 80 mil. Ganhamos da Portuguesa
[Santista], que a folha de pagamento é R$ 50 mil. Deixamos para trás a
Matonense, que a folha de pagamento é quase R$ 200 mil”, vibra.
Contente com
os resultados, o técnico espera que a torcida local, da cidade que tem 24 mil
habitantes, compareça em melhor número a partir da terceira fase. “Torcida a
gente não tem: a cidade é pequena, não passa 500 pessoas por jogo”.
Questionado a
respeito da surpreendente campanha que realiza no campeonato, o carismático
treinador afirma que o extra-campo faz a diferença. “O Presidente é de Rio
Preto, paga todo mundo a cada 15 dias. É um time bem simples, com os pés no
chão, mas dentro de campo somos foda! Futebol é isso, não é espetáculo mais
não, é raça, vontade e determinação. Estamos entre os 16, e se chegarmos entre
os 8, que é na próxima fase, aí nós temos certeza que vamos subir.”
ARBITRAGEM -
Para realizar o sonho do acesso, o treinador espera que o Tanabi vença todas as
barreiras que um time pequeno enfrenta. “Tem a questão da arbitragem, porque
eles acham que Tanabi é no fim do mundo e não pode subir. Mas não tem isso não,
tem que ter competência. Se Tanabi é lá no fim do mundo mas pelo menos tem time
bom, estádio bom, é o que tem que prevalecer”, salienta.
Para
completar, o treinador do Tanabi desejou sorte às equipes de São Carlos.
“Torcemos para que o São Carlos F.C. saia dessa crise, e para que o Paulisitnha
continue fazendo um excelente trabalho na segunda divisão. São Carlos merece
ter uma equipe na elite, afinal é uma cidade maravilhosa, bem localizada, que
tem tudo para ter grandes equipes que levem o torcedor ao estádio”.
Nota do autor: Todos os fatos aqui relatados são verídicos, excetuado o fato de que pessoa que me convidou
para jogar conversa fora, o jornalista Ricardo Gama, dirigiu no limite da velocidade. Eu juro.
Nota da redação: O Tanabi enfrentou no
domingo (25), o Cotia, e perdeu pelo placar de 2 a 0. Apesar do escritor
deste artigo estar na torcida pelo "time do fim do mundo", provavelmente o gramado sintético e a viagem de 500 quilômetros
influenciou no desempenho da equipe.
Nota do autor: A cidade de Tanabi tem
aproximadamente 24 mil habitantes e 500 pessoas por jogo nas arquibancadas para
assistir o time local disputar a quarta divisão. São Carlos tem aproximadamente
230 mil habitantes, dois times, e uma média de público de 200 pessoas por jogo.
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