Luisão lotado no início dos anos 90; época áurea do extinto Grêmio (Foto: Sérgio Piovesan/Arquivo Pessoal) |
Escrito por João Victor
Gonçalves*
Desta vez, o resultado da última partida do Paulistinha não merecerá uma análise tão profunda de minha parte
neste espaço. O empate por 1 a 1 contra o Tupã, embora amargo, não pode ser
classificado como injusto. Pelo contrário: se alguma equipe mereceu a vitória
no embate tecnicamente fraco presenciada por mim e por outras almas no Luisão,
esta equipe foi a comandada por Tupãzinho. “Menção honrosa” às chances
desperdiçadas pelas duas equipes, principalmente pelo visitante.
Porém, o assunto desta coluna
está fora das quatro linhas. Não muito distante delas: especificamente, na
arquibancada. Tradicionalmente, já nos acostumamos aos públicos pequenos nos
jogos de Paulistinha e São Carlos no Estádio Municipal Prof. Luis Augusto de
Oliveira, e milhares de teorias talvez pudessem explicar isso, mas a grande
verdade é que o futebol no interior já não empolga a população como
antigamente. A população prefere pagar R$ 130 para correr embriagada atrás de
trios elétricos em “festas” universitárias... mas essa é outra história.
No próximo domingo, o “Tio
Patinhas” recebe a outrora gloriosa Matonense em nosso Estádio Municipal. Uma
partida decisiva para as pretensões das duas equipes, que vem de resultados
negativos nesta fase final da Segundona (Paulistinha 1x1 Tupã, Matonense 0x1
Atibaia). Mais uma partida para a trajetória já histórica do CAP neste campeonato,
se não fosse o peculiar fato de a equipe visitante poder colocar mais
torcedores que a representação são-carlense nas gerais do Luisão. E isso não se
deve a um “deslocamento histórico” de torcedores da cidade de Matão, mas sim à
opção de alguns torcedores da própria cidade de São Carlos em apoiar a
Matonense.
O vínculo entre a torcida organizada
do São Carlos FC (Sancaloucos) e a organizada da Matonense (Garra Azul) já é percebido
há certo tempo, em virtude das faixas e camisas vistas entre os fiéis adeptos
organizados que apoiam a Águia da Central, e não é recriminável. Muito pelo
contrário: poucas pessoas possuem uma legitimidade de cobrança da equipe tão
grande quanto os mais assíduos frequentadores da organizada do Sanca que, faça
chuva ou faça sol, está apoiando nossa equipe.
O que me assusta é a
possibilidade de o Paulistinha ser encarado como “rival” pelos torcedores mais
ferrenhos do São Carlos FC. Uma equipe recém-profissionalizada, com uma torcida
basicamente composta por familiares de atletas e idosos apaixonados por futebol,
que não consegue sequer lotar a arquibancada coberta do Luisão, não pode ser
vista como uma “ameaça” ao clube melhor estruturado e mais glorioso em
atividade na cidade. Pelo contrário: num cenário “ideal”, o Paulistinha poderia
ser visto como uma espécie de “São Carlos FC B”, contando com atletas não
aproveitados pela equipe principal da Águia e surgindo como uma opção de lazer
aos admiradores do futebol de nossa cidade.
Duvido que o torcedor bugrino ou
ponte-pretano visse o Campinas FC (equipe fundada por empresários campineiros
que atualmente se chama Sport Barueri) como uma ameaça. Duvido que o torcedor
botafoguense ou comercialino encarasse o Olé Brasil como um “rival potencial”
durante suas partidas. Da mesma forma, não quero acreditar que o Paulistinha
seja apontado como o “rival local” do São Carlos FC. Os feitos conquistados na
bonita história de quase 9 anos do SCFC mostram que a trajetória da equipe no
futebol paulista já permite que ela seja colocada num nível acima ao do humilde
Paulistinha (sendo que esta condição de “humilde” jamais pode ser encarada como
demérito pelos apoiadores do CAP).
Ao longo da história
futebolística de nossa cidade, tivemos times coexistindo pacificamente, sendo o
exemplo mais clássico o de Grêmio Esportivo Sãocarlense e Estrela da Bela
Vista. A equipe milagrosamente sustentada por João Ratti jamais esteve ao nível
do Lobão, máximo representante de nosso futebol. Os rivais do Grêmio sempre
foram XV de Jaú, Ponte Preta, Velo Clube, XV de Piracicaba, Comercial, Botafogo
e a finada Ferroviária de Esportes (dos tempos da Companhia Paulista e,
posteriormente, da Fepasa).
Atualmente, várias equipes
colocam-se como rivais do São Carlos FC. Partidas contra Penapolense, União
Barbarense e a S/A de Araraquara sempre tiveram um sabor especial pelos
“atritos” e “rixas” existentes entre os torcedores. Por sua breve história, o
Paulistinha não se coloca como uma destas. Assim sendo, mais do que “secar” o
Tio Patinhas, os torcedores da Águia deveriam abraçar a causa dos comandados de
Gilmar Rodrigues e torcer pela equipe que está representando nossa cidade, ao
menos enquanto ela milita na Segunda Divisão de Profissionais. Mais do que os
nomes de Grêmio Sãocarlense, Estrela, Bandeirantes, São Carlos FC ou
Paulistinha, as equipes de futebol levam pelo país o nome de nossa cidade: SÃO
CARLOS.
*João Victor Gonçalves é blogueiro do Globo Esporte (Futebol na Oceania), estudante de Medicina, tem 18 anos e é torcedor de São Carlos FC e Paulistinha.
Sempre presente nas históricas arquibancadas do Luisão.
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